festival
melanina acentuada
ANO VI
“Desmontando a Casa” nasceu em 2022 e é fruto da investigação da pesquisa de mestrado, na área de voz, da atriz baiana, Mariana Freire; e traz diversos questionamentos e reflexões acerca dos componentes de construção do solo teatral como: a construção dramatúrgica, a composição da personagem e a relação corpa-voz; como também aspectos que refletem a estrutura social racista e misógina na relação com artistas negras! A atriz se desmonta diante do público propondo questionamentos sobre a época em que não se pensava como fruto de uma sociedade racista, misógina e classista.
A atriz busca compreender/perceber, a partir de um olhar decolonial, o que instaurou o mal estar nesse trabalho artístico; desde 2005, quando perdeu sua voz na construção do solo original Casa Número Nada. Nesse novo trabalho artístico, de desmontagem, Mariana entra em cena para observar/sentir/questionar, enquanto mulher afro-ameríndia, o que causou angústia, medo e insegurança na sua expressão da sua voz no solo, convidando a platéia, num jogo lúdico de montar-desmontar a personagem-cena, a repensar se o ambiente teatral também precisa DESMONTAR saberes eurocêntricos teatrais, ditos como verdade universal! A partir de uma ação de auto abertura e auto revelação, a atriz aborda temas como o racismo estrutural, o auto-ódio, empoderamento, feminismos e auto amor.
A escolha de DESMONTAR o solo original, que se configura dentro das linguagens contemporâneas da
performance teatral, atende a necessidade da atriz de revisitar sua biografia/casa, tanto como pessoa como artista, dentro do ambiente teatral, a partir do solo. O letramento racial é o gatilho central que fez com que a atriz, RE-OLHASSE sua atuação na vida e RE-CONSTRUA um novo modo de se perceber no solo e na vida, atualizando sua percepção como mulher afro-ameríndia. Ao abrir a CASA, desmontado-a, a atriz convida a todos da platéia a RE-PENSAR/DESMONTAR suas verdades, desvendando como o racismo estrutural se estrutura, também, na arte!
O solo que originou a desmontagem, Casa Número Nada, é um espetáculo teatral que tem uma trajetória de 18 anos! Este solo teve seu último formato com a atuação/dramaturgia/cenografia de Mariana Freire e, também direção e dramaturgia do ator, encenador, produtor e diretor, Fábio Vidal. O solo conta a história de uma mulher, chamada Renata, que entra no seu apartamento e o encontra vazio, levantando uma série de questionamentos entre o Ser e o Ter, na construção de um indivíduo, na sociedade capitalista.
A sua trajetória nasce com um formato de 15min, em 2005, dentro do espetáculo A Trilogia Baiana, direção de Meran Vargens, onde a atriz, na época estudante da Escola de Teatro da UFBA, teve uma afonia emocional – perda da voz – e viveu um dos momentos mais desafiadores da sua carreira. Apesar disso, o solo ganha o patrocínio do edital da FUNCEB, em 2009, e circula por cidades e outros estados brasileiros. A última vez que, Mariana Freire, realizou o solo foi em São Paulo, dentro do projeto Melanina Acentuada, em 2013, grávida de 5 meses de sua Filha, Maria Flor. Em 2018, a convite de seu diretor, não quis voltar com o solo por conta do MEDO DE PERDER A VOZ. Mas só em abril de 2022, por conta da pesquisa de mestrado faz uma apresentação fechada para 30 pessoas, na Casa Preta, e se dá conta que não mais perderá sua voz. Agora, como mestranda pelo PPGAC da UFBa, e às voltas com a pesquisa vocal, a atriz baiana, com 28 anos de carreira, entra pela porta desta Casa, DESMONTANDO-A, num re-encontro com sua VOZ TERRITÓRIO! A atriz foi indicada ao Prêmio Braskem de Teatro, na categoria Melhor Atriz, pelo solo.
FICHA TÉCNICA